Os seminários periodicamente promovidos pela APEP, ao reunir alguns dos principais atores do segmento da previdência complementar fechada no Brasil, se consolidam como um fórum essencial à atualização do conhecimento. Ensejam provocações que levam a reflexões por parte dos debatedores e participantes e conduzem à discussão das tendências e dos desafios do setor, que, em sua totalidade, considerando o sistema de previdência aberto e fechado, representa nada menos do que 25% do nosso PIB, ou seja, cerca de R$ 2,5 trilhões, e contribui para um futuro melhor de milhares de famílias brasileiras.
Exemplo recente dessas iniciativas, o V Seminário Previdência Complementar em Debate, realizado em 30 de novembro, obteve diferenciado sucesso, atribuído em parte pela parceria com o IPCOM – Instituto Brasileiro de Previdência Complementar e Saúde Suplementar.
Durante mais de oito horas, autoridades do Ministério da Previdência Social, gestores de entidades de fundos de pensão e patrocinadoras de planos fechados de previdência, investidores, especialistas em atuária e contabilidade, consultores e associações ligadas ao setor debateram questões fundamentais que se impõem no presente e impactam o futuro desta e das próximas gerações nos curto e médio prazos.
Nos oito painéis, dois temas ganharam destaque no seminário: Fomento e Longevidade. O primeiro, um velho conhecido que cada vez mais é considerado essencial para o crescimento da previdência privada fechada no Brasil. O segundo, ainda de abordagem menos enfática no segmento, começa a ter mais notoriedade, pela relevância da revolução da longevidade no país e o impacto que o veloz envelhecimento da população brasileira já causa à camada previdenciária no país. O Brasil envelhece na pobreza, ao contrário dos países mais desenvolvidos que primeiro enriqueceram para depois envelhecer.
Se fosse possível resumir em poucas palavras o resultado desse encontro, diríamos que a parceria entre o governo federal e os entes privados sai ainda mais fortalecida, compartilhando do mesmo propósito de maior valorização do setor, que já é robusto por excelência.
Marcelo Bispo, vice-presidente da APEP, por designação do presidente Herbert de Souza Andrade, agradeceu às autoridades do Ministério da Previdência Social pela estreita parceria que impulsiona o setor, às demais associações pelo apoio e aos patrocinadores do evento.
Aproveitou, ainda, para anunciar a aprovação do Projeto de Lei 5503/2019, de autoria do Senador Paulo Paim, que irá permitir aos participantes de plano de previdência complementar optarem pelo regime de tributação no momento do resgate ou da obtenção do benefício. Com isso, o participante poderá decidir o que será mais vantajoso a ele.
Também na condição de anfitrião do Seminário, Wagner Balera, diretor-presidente do IPCOM, reforçou a todos os agradecimentos e fez uma analogia da letra V, de quinto seminário, com a sua expectativa de vitória do evento.
José Rauen, diretor-presidente da CuritibaPrev ressaltou que Curitiba foi o único município do Brasil a ter a ousadia de criar uma entidade fechada de previdência complementar. Em operação há cinco anos, a CuritibaPrev está fechando 2023 com quatro mil servidores participantes. Referindo-se ao sistema de previdência fechada e aos atores do setor, Rauen foi enfático em dizer que “temos que deixar de ser egoístas” e fomentar esse maravilhoso benefício que é bom para todos – servidores públicos, empregados, patrões e para o Brasil.
Elenice Pedroza, diretora-adjunta da OAB/Prev – Paraná, que tem como beneficiários os advogados do estado, ressaltou o trabalho contínuo da entidade na promoção da educação previdenciária e financeira.
O diretor do IBA – Instituto Brasileiro de Atuária, Daniel Conde reforçou a importância da parceria com a APEP e outras entidades setoriais. Destacou o viés técnico e as boas práticas utilizadas pelo Instituto que contribuem para o fomento e oferece soluções ao sistema de previdência fechada como um todo.
A relevância do fomento e a necessidade de valorizar a adesão automática foram os pontos fortes das palavras de Roque Muniz de Andrade, da Ancep – Associação Nacional dos Contadores, que preconizou a união de esforços de todos os atores para a alavancagem do mercado. Finalizando, ele comunicou a criação da AncepPrev.
No painel de abertura, sob o tema “A previdência complementar no Brasil está cumprindo o seu papel na seguridade social?”, Paulo Roberto dos Santos Pinto, secretário de Regime Próprio e Complementar do Ministério da Previdência Social, enfatizou: “O setor da previdência complementar contribui para um futuro melhor de milhares de famílias brasileiras. Hoje, temos mais de 17 milhões de contratos vigentes de previdência complementar no Brasil, mas é fundamental extrapolar esse benefício, que é bom para o participante e para a economia nacional”.
O secretário ainda afirmou que, para o setor se fortalecer, a palavra-chave é fomento. E mais: “Precisamos rapidamente ‘sair da bolha’ e levar a cultura previdenciária e a defesa da previdência complementar para discussão em toda a sociedade”. Ele contextualizou essa afirmação dizendo que é necessário ampliar o debate e deixar de somente falarmos entre nós mesmos.
Ao final, acrescentou que a sua pasta já está fazendo gestões junto ao Ministério da Educação no sentido de incluir disciplina de educação previdenciária na grade curricular.
Desse painel, mediado por Felinto Sernache, da APEP, também participaram Carlos Queiroz, diretor da SUSEP, que abordou a importância da previdência complementar aberta e seus produtos, PGBL e VGBL; Carlos de Paula, membro do Conselho de Administração da Enova Holding, que fez uma importante retrospectiva histórica dos avanços da previdência complementar no Brasil e trouxe dados sobre o preocupante e rápido envelhecimento da população brasileira; Guilherme Campelo, diretor de Licenciamento da Previc, que agradeceu o apoio da APEP nas questões relativas à retirada de patrocínios e anunciou uma decisão recente da Previc de formar no curto prazo uma Comissão de Fomento reunindo os representantes das associações do setor.
No encerramento do painel, Wagner Balera, diretor-presidente do IPCOM, provocou a todos dizendo que, a seu ver, o questionamento implícito no tema do painel “A previdência complementar no Brasil está cumprindo o seu papel na seguridade social?” deveria ser “O que a seguridade social espera da previdência complementar?”, destacando que cabe à seguridade social promover o bem-estar e a justiça social.
Mediado por Arthur Pires, diretor superintendente da PRhosper Previdência Rhodia, que, de início passou a palavra ao Leandro Santos da Guarda, procurador-chefe substituto (*) da Procuradoria Federal na Previc, colocou à reflexão a criação de instrumentos para o setor.
Comentou sobre as ações implementadas pela autarquia e ressaltou a necessidade da segurança jurídica para os participantes e gestores dos fundos de pensão. Ainda defendeu o incentivo à adesão automática, a importância dos incentivos fiscais e a inovação com o uso de novas tecnologias e na criação de um ambiente regulatório seguro para teste de novos produtos e serviços. Concluindo, disse: “Acredito que, avaliados todos esses pontos, teremos espaço necessário para discutir mudanças no contrato de previdência complementar”.
(*) em 4/12, foi nomeado procurador-chefe.
Antonio Bráulio de Carvalho, diretor de administração e finanças da Anapar, fez uma retrospectiva histórica da criação da Previdência Complementar no Brasil, remontando à década de 70. Imagina que, à época, pensando que nenhum país poderia crescer sem uma poupança de longo prazo, o Estado idealizou a Previdência Complementar estabelecendo um contrato entre duas partes – entidade patrocinadora e trabalhador – com o suporte do Governo.
Contudo, segundo ele, de lá para cá, em meio a uma série de desvios nas regras, o trabalhador, que detém o direito patrimonial sobre o contrato, jamais foi ouvido e tem sentido perdas importantes. Ele chama a atenção para um ponto fundamental: a frustração de expectativas por parte do participante não motiva, sequer, a busca de fomento para o setor.
Flávio Martins Rodrigues, sócio da Boecater, Camargo, Costa e Silva, Rodrigues, falou sobre as diversas transformações do mundo atual que impactam fortemente os contratos de Previdência Complementar e sobre a dificuldade de trabalhar em um cenário com contratos de longa duração, como este da previdência privada. Trata-se de um contrato indeterminado. A título de exemplo, ele faz um paralelo com um contrato de locação.
O desafio é responder uma questão de difícil solução satisfatória como a retirada de patrocínio. É importante ter diálogo entre as partes para enfrentar esse ambiente
A vice-presidente do IPCOM, Ana Paula Raeffray, trouxe para o debate uma série enorme de provocações e de críticas em relação ao contrato de previdência privada no Brasil. “É um ornitorrinco!”, comparou, ao se referir a um animal estranho dadas as suas variadas e peculiares características. E isso se deve a uma congruência de fatores, em especial porque busca atender a uma série de normas. Por conta disso, detém uma certa nebulosidade, uma difícil interpretação e até uma ausência de segurança para o futuro. “Você sabe como entrou, mas não sabe como irá sair”, afirma.
Esse ponto talvez explique a dificuldade de fomento para o setor. De outra forma, citou uma pesquisa realizada pelo Datafolha/FenaPrevi, em julho de 2023, que aponta que, em termos de benefício, a previdência complementar quase perde para a adesão de um seguro de viagem. E mais, entre as 9% de participantes de planos de previdência privada (aberta ou fechada), 40% não souberam dizer qual plano de previdência contrataram.
Ao término de sua apresentação, Ana Paula recorreu a Peter Drucker (*) e às cinco perguntas a serem utilizadas como referência para se elaborar corretamente um contrato. Qual a sua missão? Quem é o seu cliente? O que seu cliente valoriza? Que resultados você pretende alcançar? E qual o seu plano? Para esta última, disse: “Não é o seu plano de previdência, mas qual o seu plano para fazer um plano de previdência”, finalizou.
(Peter Drucker foi um professor, consultor e escritor de origem austríaca, reconhecido, principalmente, por sua visão única da Administração, na qual as pessoas são o foco das práticas de gestão e marketing nas empresas.)
Antonio D’Aguiar, diretor da APEP e mediador do painel, perguntou: “Como vamos rentabilizar os investimentos para podermos pagar os nossos colegas que estão se aposentando?”
Para Andressa Castro, economista chefe da BNP Paribas Asset Management Brasil, o cenário brasileiro para 2024, embora contenha alguns riscos, mostra a nossa economia mais aquecida e resiliente, antevendo um PIB positivo e que cresceu bastante nos dois últimos anos, com avanços no crédito e incremento do emprego.
Segundo ela, isso se deve, também, à economia norte-americana, que se mostra resiliente, e com a expectativa do FED (Banco Central Americano) de cortar juros de modo mais acentuado a partir do segundo semestre e isso implicará também em queda da nossa taxa Selic. Adicionalmente, as nossas exportações agrícolas e de commodities, em especial o petróleo, contribuem para segurar a evolução do dólar.
Andressa aponta para riscos potenciais causados por fatores mais de cunho político do que econômicos. E exemplifica a possibilidade de o governo mudar a meta e com isso promover mais os gastos internos, além do desafio fiscal, que pode ser potencializado pelas dificuldades de o governo alcançar as metas primárias. “Puxadinhos fora do arcabouço fiscal são uma grande preocupação”.
O segundo participante deste painel, Fábio Coelho, presidente da AMEC – Associação de Investidores do Mercado de Capitais, começou a sua fala dizendo, provocativamente, que o aspecto econômico fortemente inserido na questão previdenciária vai acabar moldando também o não menos importante lado jurídico. Em sua apresentação, intitulada Alocação de Fundos de Pensão & Desafios Presentes, ele pergunta: Como as alocações de institucionais se comportaram nas últimas mudança de cenário dos juros?
Para responder a essa questão, valeu-se da análise de uma sequência histórica que demonstrou que os juros reais de longo prazo ainda superiores à de zona de conforto atuarial dos fundos de pensão, o que abre espaço para os patrocinadores diversificarem seus investimentos.
Nos primeiros meses de 2012, os investidores começaram a apostar nessa diversificação e private equity, investimentos no exterior e fundos de investimentos imobiliários ganharam a atenção. Contudo, com a forte volatilidade que tomou conta da economia em 2013, no ano seguinte opções mais conservadoras se tornaram recursos de investimentos mais importantes para os fundos de pensão.
Para ele, “Não podemos negligenciar o passado. Temos que olhar a dinâmica de solvência e rentabilidade. Esses são os dragões que perseguem a previdência”, afirmou. E deixa o recado: “Precisamos estar sempre alertas e preparados. O segredo do sucesso é a antecipação do movimento”, finalizou.
Segundo Luis Guedes, sócio e gestor de equities da Vinci Parters, a alocação mensal em renda variável, nos fundos locais, expos nos últimos dois anos um decréscimo e se mostrou uma estratégia perigosa. Isso se justifica principalmente pelos diversos ruídos havidos na economia local em 2023, como resultado de fatores internos e externos.
A importância da diversificação na Renda Variável fica vinculada à definição e ao acerto da estratégia correta. E isso é bastante difícil para o investidor, já que depende da análise de inúmeros aspectos. E acrescenta: “Mais difícil ainda é querer trocar a estratégia”. Ao final, recomenda: “Diversifique a estratégia dentro da mesma faixa de ativos”.
Encerrando esse debate, Guilherme Benites, sócio diretor da Aditus Consultoria Financeira, respondeu ao questionamento de Antonio D’Aguiar sobre que tipo de risco devemos ficar mais atentos para 2024, dizendo estamos em um momento de queda de juros e é natural que as pessoas voltem a investir, mesmo em um ambiente de políticas de investimentos majoritariamente conservadoras.
A despeito do cenário que pode trazer riscos, é preciso deixar bandas para gradativamente ao longo de 2024 começarmos a fazer alocações, por exemplo, em renda fixa, em oportunidades de crédito. Enfim, diversificar o portfólio em aplicações mais locais, com um controle mais qualitativo em bolsa e multissetores. Importante também ampliar as nossas estratégias de investimentos no exterior, com cautela, já que os Estados Unidos e a China também são hoje uma incerteza.
Com a mediação de Marcelo Neves, Consultor Sênior da NETInvest e membro do Conselho do IPCOM, o painel teve com Lucio Capelletto, ex-diretor superintendente da Previc, a primeira apresentação. De início, ele mostra um quadro com a distribuição dos investimentos regularmente feitos atualmente e após compara Selic, Dólar e Ibovespa, para, de imediato, concluir que os riscos atuais para a previdência privada apresentam grande volatilidade e não continuam iguais como propõe o questionamento do painel.
Capelletto também coloca na balança, de um lado os investimentos como ativos (risco de mercado, de crédito, de liquidez, de ESG e até os climáticos) e, de outro, as obrigações como um passivo (risco operacional, atuarial, longevidade, cibernéticos) que reforçam ainda mais a sua tese pela enorme disposição dos riscos atuais.
Tais comparações permitem recomendar que, para manter o equilíbrio técnico, há a necessidade de se fazer uma eficiente gestão de riscos fundamentada em uma governança robusta e controles internos.
Marcia Fernandes, diretora-presidente da Fundação Promon de Previdência Social, optou por apresentar o tema sob a ótica dos patrocinadores, com base em três eixos, mais dinâmicos e complexos: legislação, evidenciando o peso das novas relações trabalhistas; tecnologia, com o advento das pension techs, que permitem aos participantes fazerem suas próprias escolhas, e pessoas e participantes, com peso especial em longevidade e mudanças profundas no agrupamento familiar. Em meio a esse último eixo, chamou a atenção para a frustração de expectativa versus realidade que pode afligir os participantes.
Ganhou destaque em sua apresentação o “case da Fundação Promon”, a mais antiga entidade fechada de previdência complementar patrocinada por empresa privada em atividade no Brasil e que se tornou benchmarking no mercado brasileiro. Segundo ela, até 2021 a patrocinadora operava um plano CD colocava um percentual significativo do salário dos participantes sem deles exigir qualquer contrapartida. Uma atitude paternalista, que não poderia ter continuidade, mesmo porque não havia reciprocidade dos participantes, que, à época, rondava os 40% do quadro funcional.
A constatação dessa postura veio após uma pesquisa interna que registrou que os participantes, a despeito de julgarem o benefício como muito relevante, não tinham intenção de aportar não mais que 2 a 3 % de seu salário no plano de previdência, mas que em contrapartida tinham a expectativa de recebimento de mais de 50% do salário como benefício mensal. Foi constatada aí um risco enorme de frustração por parte do participante.
A patrocinadora definiu por tomar uma decisão que levou a uma drástica mudança. Alterou o regulamento do plano, manteve o seu investimento e pediu o protagonismo dos participantes. Hoje, o plano conta com a adesão de 90% do quadro de colaboradores e o aporte médio de 7% de cada participante.
Rosangela Iuki, sócia-atuária da Mirador, fez uma apresentação extremamente didática, iniciando com a definição oficial do conceito de Previdência Complementar com ênfase no “acúmulo de reservas” e na “qualidade de vida na fase pós-laborativa”.
A partir daí, infere o risco de escassez de recursos vinculado à acumulação de reservas e longevidade sem qualidade de vida e à qualidade de vida na fase pós-laborativa e aborda os momentos de crises econômicas que, normalmente, acontecem no Brasil a cada seis ou sete anos e que impactam a vida dos participantes e dos patrocinadores. Entre os principais fatores destaca desemprego, endividamento público, inflação, aumento das desigualdades sociais, falência das empresas etc.
No encerramento de sua exposição, Rosangela colocou algumas reflexões sobre os riscos possíveis diante dos cenários apresentados: o risco de subfinanciamento das rendas é real e crescente; uma aposentadoria subfinanciada e uma força de trabalho envelhecida representam um risco muito real para as empresas e os investidores, bem como para o desenvolvimento de uma nação; e, finalmente, os riscos de déficit e de premissas podem ser muito difíceis de avaliar em planos individuais, portanto o acompanhamento pessoal do nível de renda futura é essencial para o atingimento dos objetivos e construção de uma renda adequada para manutenção do padrão de vida desejado.
E deixa dois recados importantes para mitigar os riscos: destacar a importância da acumulação de reservas financeiras para proteção aos riscos futuros e ter acesso a ferramentas e educação financeira para se preparar adequadamente.
Maurício Martinelli, diretor de investimentos da Mercer Brasil, fez a última apresentação desse painel. Também procurou ser bastante didático, lançando mão, inicialmente, de conceitos bem explorados sobre os fatores influenciadores em um plano de previdência como tempo e disciplina para subsidiar a visão sobre riscos.
Na sequência, apresentou os principais desafios do cenário atual – redução gradual do benefício oficial, maior longevidade, expectativa de queda de juros em 2024 e a possível necessidade de se assumir mais riscos no portfólio considerando que um perfil extremamente conservador poderá não trazer o retorno esperado pelo participante. Daí, a necessidade de diversificar aplicações, a par de arriscar mais.
Nesse contexto, mostrou aspectos relacionados à importância de diversificar os ativos no portfólio, aumentando a possibilidade de retorno. Também apresentou desafios na acumulação com base na reposição salarial total como as novas regras da previdência oficial e uma queda esperada de juros podem representar uma redução de aproximadamente 15% no benefício projetado.
Finalmente, fez menção aos planos BD, que têm foco na solvência e a importância de se fazer análise de sensibilidade na realização de estudos de determinação de portifólio, e aos planos CD, que mantém foco na acumulação e retorno.
José Luiz Rauen, voltou ao palco para, na abertura deste painel, fazer uma reflexão pertinente abordando o papel do Estado nas relações socioeconômicas. Dentro de uma concepção liberal-oitocentista, abordou a lógica da oposição versus exclusão, o Estado ou a iniciativa privada. Contudo, fazendo uma regressão na história brasileira mais recente, chega-se à conclusão que, gradativamente, o Estado teve mais clareza do seu verdadeiro papel dentro da ordem econômica constitucional brasileira, que é capitalista e que o país é detentor de um “capitalismo funcionalizado à justiça social”.
“Em resumo, evoluímos para uma lógica do “e”, ao invés do “ou”, ou seja, o Estado e a iniciativa privada, somando esforços”, afirma Rauen. Nessa linha de pensamento, ele acredita que o Estado deve continuamente rever e atualizar a sua posição. Cabe ao Estado fixar disciplinas e instaurar normas a partir de inúmeras técnicas regulamentares disponíveis. Em síntese, o Estado precisa parar de se preocupar em fazer “endogestão” e deixar ao setor privado a gestão dos planos de previdência complementar.
Provocado pela mediadora Elenice Pedrosa, Jose Roberto Ferreira, sócio diretor da Rodarte Nogueira & Ferreira, o segundo painelista, foi inquirido a falar sobre a insegurança jurídica como algo que não contribui para os avanços do setor no país. E antes de evoluir em sua fala, aproveitou para parcialmente confrontar o palestrante anterior afirmando que não podemos separar estoque e fomento. Precisamos manter bem o nosso estoque responde pela sustentabilidade da previdência complementar e o fomento pela perpetuidade. Em sua opinião, o exercício disso também depende da segurança jurídica.
Acrescentou que ao se falar de regulação, apontou a dificuldade histórica que o sistema tem de tratar o tema com a segurança jurídica. A título de exemplo, o TCU – Tribunal de Contas da União provoca um efeito danoso ao setor ao agir como um quarto poder, lembrando que cabe à Previc cuidar da fiscalização e da supervisão do setor e que os fundos de pensão, por força de lei, são regidos pelo segmento privado. Assim, fica difícil ao participante falar em fomento e incentivá-lo a entrar numa relação de 30, 40 anos onde não se respeita nada, que a própria lei não protege e que tem direito adquirido.
Ao encerrar, ele afirmou. “Há um conjunto de assuntos que estão sendo estudados e cujo processo de ação são oportunidades de fomento, mas se os limites não forem preservados juridicamente, é um risco para o setor.”
O presidente da APEP, Herbert de Souza Andrade, antes de fazer a sua apresentação, como coanfitrião renovou os agradecimentos aos participantes do evento, aos patrocinadores e apoiadores e aos palestrantes, com ênfase aos representantes do governo, todos com a mesma preocupação da APEP com o fomento do setor.
Em sua exposição, Herbert fez referência a uma pesquisa feita pela APEP em 2022 com seus associados e comentou três principais pontos: tratamento equitativo aos fundos de pensão em função de suas características como um caso bem-sucedido por ter obtido a compreensão e o apoio da Previc com a edição da Resolução nº 23, em junho deste ano e a tributação dos participantes que, nessa mesma data de realização do seminário, ganhou força pela aprovação legislativa do PL 5503/2019, de autoria do Senador Paim e que está para promulgação.
Com base em uma pesquisa trazida pela Mercer, apresentada no seminário realizado em junho, que trata da importância do patrocinador no bem-estar financeiro dos colaboradores, 60% da força de trabalho está estressada sobre a sua situação financeira.
Por fim, uma pesquisa da Robert Half (Guia Salarial) sobre as percepções do empregador e do empregado quanto aos benefícios de seguros e previdência mostra que, na visão do colaborador, a previdência privada (41%) fica bem aquém do plano de saúde (94%), do seguro invalidez / acidente (56%) e até do plano de saúde veterinária (48%). Em resumo, as pessoas se preocupam mais com morrer do que com viver, com os pets do que com a longevidade.
Encerrando a sua apresentação, Herbert comentou sobre três pontos: educação previdenciária, como ferramenta de sensibilização dos colaboradores para valorização do benefício da previdência privada; sensibilização dos empresários com base nas vantagens da oferta de um plano de previdência para seus colaboradores e sensibilização do Estado para a importância da previdência privada como fator de indução do crescimento econômico.
A última expositora do painel IV, Aparecida Pagliarini, membro do Conselho do IPCOM, que acompanha a previdência complementar desde 1977, avalia que o setor experimentou uma sensível evolução legislativa. Contudo, pondera que essa evolução poderia ser maior se não fosse a crise de identidade pela qual passa o setor. E justifica dizendo que a regulação somente poderá ser aprimorada e mais bem definida se nós tivéssemos clareza do que realmente queremos, acrescentando que a lei não vem antes de um fato social.
Dois pontos de atenção dizem respeito aos contratos. Em primeiro, Aparecida alerta para o fato de que cerca de 90% dos participantes não entendem absolutamente nada do que está escrito nos regulamentos, que não são transparentes e claros para eles. Em segundo lugar, ela diz que é essencial que os planos sejam geridos por profissionais competentes e que os participantes dos conselhos deliberativos deixem de ser passivos e inoperantes.
A esperança da expositora é que a legislação possa ser simplificada. Não é a norma que vai trazer fomento para o setor, mas o trabalho competente dos gestores dos fundos de pensão e do maior comprometimento dos conselheiros.
Na condição de anfitriões, Herbert de Souza Andrade, presidente da APEP, valorizou os temas abordados, a parceria com o IPCOM e a união de esforços de todos os envolvidos com a causa da previdência complementar privada. Ana Paula Raeffray, vice-presidente do IPCOM, por sua vez, ressaltou a importância do trabalho conjunto com a APEP e ratificou que o grande desafio é trabalhar a economia da longevidade para que todos tenhamos um futuro melhor.